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sábado, 21 de maio de 2016

Com o fascismo não há como ceder nem negociar

Querendo ou não, o voto do Sr. Jair Bolsonaro no plenário da Câmara, homenageando, aos gritos, o golpismo, a tortura, e fazendo alusão ao sofrimento físico e ao terror sofridos por Dilma Roussef quando de sua prisão – ilegal, por ilegal ser o regime – à época do regime militar, foi o ápice emblemático, o marco, o símbolo, a evidência, de uma situação histórica cristalina e incontornável.

Por Mauro Santayna, na RBA

Descarado, despudorado, estúpido, violento, irracional, com centenas de milhares de votos e milhões de simpatizantes, muitos deles organizados em uma miríade de grupos que vai de saudosistas e apologistas da tortura e dos assassinatos de opositores políticos a fundamentalistas religiosos corruptos, nascidos da exploração da fé, do voto e do bolso da parte mais pobre e menos informada da população – sem oposição, sem controle por parte do Judiciário, que a ele se alia por numerosos braços, e da polícia, que lhe fornece candidatos e simpatizantes – o fascismo veio para ficar e ocupa já um espaço próprio na sociedade brasileira, desafiando abertamente a Democracia e o que ela tem de mais importante, essencial, libertário, humanístico, civilizatório.

A questão inadiável, que se coloca, para agora e o anos de eventual pós-petismo, é a seguinte: o que fazer com o fascismo?

Denunciá-lo e isolá-lo, como a absurda excrescência que é em nosso modo de vida e no nosso espectro político? Tentar articular uma frente possível, para enfrentá-lo?

Ou permitir que se instale, como legado do nosso passado colonialista e escravagista, “normalmente”, na vida do país, e que abra caminho para o poder, ajudando a isolar e a desconstruir, institucionalmente, as forças socialistas e nacionalistas, sabotando-as, e destruindo-as, e eliminando-as, praticamente, institucionalmente, da vida nacional?

Por que se chegou a esse ponto de escancarado desafio às instituições e ao Estado de direito – com o beneplácito de uma mídia parcial e partidária, e o silêncio e a omissão do Legislativo e do Judiciário, aí incluído o Supremo Tribunal Federal, que não disse “gato” a respeito da fala de Bolsonaro?

É fácil procurar culpados no campo dos inimigos da Democracia, como a velha mídia entreguista, “elitista”, venal e reacionária, que estereotipa o negro, o gay e a mulher que diz defender, em suas novelas e programas de televisão.

Também é cômodo atribuir esse estado de coisas ao próprio fascismo e a seus expoentes surgidos nos últimos anos do ventre de um anticomunismo tosco, ignorante, imbecil que vão, do que há de mais abjeto na imprensa brasileira a filósofos de bolso, cantores de rock e astrólogos, passando por pastores caçadores de passarinhos e sacerdotes católicos fundamentalistas, com ligações com o exterior.

Mas isso equivaleria a culpar uma hiena por ser uma hiena, um abutre por ser um abutre, um escorpião por ser um escorpião.

O fascismo não é razoável, nem cordato, nem racional. Com ele, não há como ceder ou negociar. Se o fosse, não seria fascismo.

A culpa pela irresistível ascensão da extrema direita – e não há outro termo, nos aspectos quantitativo e qualitativo, que possa descrever com mais propriedade o atual processo – deve ser procurada entre aqueles que deveriam, por natureza, ter – mais que vocação – a necessidade de defender a Democracia e aqueles que, no poder, tinham a obrigação, a responsabilidade histórica e ideológica, de combatê-lo, evitando que as coisas chegassem aonde estão.

Tendo enfrentado o regime militar e procurado negociar o seu fim, com o movimento das Diretas Já e a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República, cabia às lideranças e partidos que conduziram esse processo ter promovido a defesa, didática, permanente, verdadeira, racional, dos valores democráticos junto à população, buscando também a renovação que fosse possível nos meios de comunicação de massa - que desde antes dos governos militares, continuam basicamente os mesmos e são controlados pelas mesmas famílias – em benefício da pluralidade de opinião e da amplitude de informação, evitando que se instalasse no país um senso comum medíocre, rasteiro e estúpido, ditatorial.

Mas não o fizeram.

A fala de Bolsonaro na votação do impeachment foi um strip-tease moral por parte da Câmara
O Sr. Fernando Henrique Cardoso, que agora declarou que a fala do Sr. Jair Bolsonaro em defesa de um torturador ofende o país, não procurou contar, em seu governo, às novas gerações, o papel – a serviço também de interesses estrangeiros – do golpismo e do fascismo, pragas permanentes na história brasileira, no suicídio de Getúlio Vargas, na sabotagem e nas tentativas de golpe contra Juscelino ­Kubitscheck durante todo o seu mandato, na constante pressão contra Jango, até derrubá-lo, pela força das armas, em 1964.

Assim como não o fez o PT.

Nos 22 anos dos governos tucanos e petistas, nem sequer um miserável Dia da Democracia foi incluído no calendário oficial, com direito a feriado, e, depois da sua instituição pela ONU, em 2007, para ser comemorado todos os dias 15 de setembro, sua existência sequer foi lembrada, em uma prosaica campanha do Tribunal Superior Eleitoral.

Nesse absurdo país em que estamos vivendo, em que o Estado de Direito foi substituído pelo Estado de Direita, e não se pode ter mais liberdade de expressão ou de opinião, o que irrita não é o ódio irracional, sádico e sombrio dos apologistas do pensamento único, dos assassinatos e da tortura, mas a inação, a incompetência tática e a falta de visão estratégica – que nesse aspecto caracterizaram os últimos anos – daqueles que deveriam dar-lhe combate.

A esquerda errou quando fingiu que não viu o que estava ocorrendo já na véspera da Copa do Mundo. Errou quando não reagiu aos insultos, aos atentados verbais, às calúnias, judicialmente. Errou quando entregou a internet à direita e à extrema-direita, permitindo que esta última a usasse como um fantástico instrumento de mobilização, mas também abandonando os portais de maior audiência, para que o fascismo, por meio de seus trolls, conquistasse para seus argumentos e mentirosos paradigmas, milhões de brasileiros que estavam começando a se “politizar” justamente naquele momento – com o acesso à internet – devido à inclusão social e digital promovida pelo próprio governo.

Errou quando não compilou suas conquistas, com dados numéricos, incontestáveis – como o crescimento do PIB e da renda per capita ou a diminuição da dívida líquida de 2002 a 2014 – fazendo delas a base de um discurso e de um plano coerente de governo, que cobrisse, institucionalmente, a economia, a soberania, o desenvolvimento e a defesa.

Errou quando não fez uma reforma política, digna desse nome, quando tinha poder e popularidade para isso, preferindo adotar, como governos passados, o fisiologismo, no convívio com o tipo de escolhos políticos que se viu na televisão no dia da votação do impeachment.

E continua errando quando quer misturar alhos e bugalhos no mesmo saco de gatos e sair atirando como uma metralhadora giratória contra tudo e contra todos, em um momento em que já ninguém quer lhe dar a mão, e taticamente, há muito pouco a fazer para reverter a situação em que se encontra.

Ao fazer isso, a esquerda – e o governo – está pedindo para ser isolada ainda e cada vez mais dos demais partidos e parte expressiva da “opinião pública”.

E está fazendo exatamente o que dela esperam seus inimigos. Dando murro em ponta de faca.

Deixando-se provocar e pautar, o tempo todo, pelos adversários e pelas circunstâncias.

Estamos à vontade para criticar, porque cansamo-nos de alertar, nos últimos anos, insistentemente, em artigos como “O PT, o PSDB e a arte de cevar os urubus”, “Os Pilares da Estupidez”, e “De Golpes e de Labaredas”, para o que estava ocorrendo, do ponto de vista da degradação e da expansão geométrica dos ataques repetidos, premeditados, intencionais, contra a Democracia brasileira.

É preciso denunciar o golpe institucional em curso?

Sim. Mas não se pode simplesmente colocar trava na porta depois da casa arrombada e tentar fazer na saída do poder o que não se fez em anos em que se estava nele, do ponto de vista da defesa da Democracia, quando se viu calmamente, da janela, de braços cruzados, que a boiada estava indo, rês a rês, inexoravelmente, para o brejo.

Tão prioritário quanto, senão muitíssimo mais importante do ponto de vista histórico e estratégico, é trabalhar com firmeza para não se isolar, perecendo, politicamente – o que seria péssimo para a democracia brasileira – e tentar, em contraposição, ir isolando o fascismo com relação ao resto da sociedade, para evitar que Bolsonaro e, eventualmente, certo juiz de Curitiba – que tem sido incensado permanentemente pelos Estados Unidos – triunfem, direta ou indiretamente – transformando-se, na oposição ou no governo, em fiel da balança eleitoral e em um elemento de permanente chantagem e desestabilização, para qualquer um que venha a vencer as eleições presidenciais – agora, antecipadamente – ou em 2018.

O que nos preocupa, no risco que corre o país, não são os palhaços loucos, sempre subestimados e ridicularizados no início, como Hitler ou Mussolini, e seus genéricos locais, mas os psicopatas que medram à sua sombra, que os veem como líderes e exemplo messiânico, e acreditam piamente neles.

Esses se transformam na alma e no sustentáculo do totalitarismo, praticando os piores crimes, usando o discurso ideológico como desculpa para idolatrar o mal e desatar, doentiamente, o seu ódio, a sua devoção pela injustiça, pela dor e pela destruição de outros seres humanos.

São eles, não em troca de voto, mas por acreditar apaixonadamente nas mentiras e mitos mais absurdos, que defendem a tortura e dizem que poderiam espancar, arrebentar e matar, como reles assassinos, em seus comentários nos portais e redes sociais.

São eles que – não se iludam – poderiam tranquila e alegremente sujar suas mãos com o sangue de pessoas desarmadas porque elas pensam de forma diferente, ou de mulheres grávidas ou crianças indefesas, por serem filhos de seus adversários políticos, caso lhes dessem uma arma, um uniforme, um porrete, uma máquina de dar choque, uma carteira com o seu retrato e um emblema.

Caberá à atitude dos grandes partidos, e das forças políticas, principalmente a esquerda, e de organizações da sociedade civil, como a OAB e a Igreja, determinar se a absurda fala de Jair Bolsonaro na votação do impeachment – que equivaleu a um histórico show de strip-tease moral por parte da Câmara dos Deputados – será vista, no futuro, como um marco fundamental para a ascensão política do que existe de pior na população brasileira, ou como o ponto de inflexão que provocou a reação da sociedade contra o avanço, até agora, paulatino, inconteste, inexorável, da fascistização do país.


Mais do que quem vai “governar” a nação nos próximos meses – entre aspas mesmo, porque há cada vez menos condições de se administrar este país, ainda mais sob condições de pressão e chantagem permanentes – é isto que está em jogo neste momento.

Disponível em: http://www.vermelho.org.br/noticia/281258-1. Acesso em: 21maio2016.


Aos que vão protestar contra Dilma

Por Elvino Bohn Gass*

Na ditadura militar, brasileiros ou brasileiras que se revoltassem contra qualquer coisa eram presos a uma cadeira de zinco ligada a fios desencapados que disparavam choques, causando convulsões, queimaduras e mordidas que decepavam a própria língua.

Na ditadura militar, quem defendesse eleições livres era amarrado nu em uma barra de ferro atravessada entre os punhos e os joelhos enquanto sofria pancadas, choques e queimaduras de cigarro.

Na ditadura militar, quem discordasse de qualquer ação do governo sofria “telefones”, tapas tão violentos contra os dois ouvidos que rompiam tímpanos e provocavam surdez. Na ditadura militar, quem denunciasse qualquer ato de corrupção tinha as narinas fechadas e, na boca, um cano que fazia engolir água até o afogamento.

Na ditadura militar, quem ofendesse o presidente, uma autoridade do regime ou mesmo um amigo do sistema tinha a cabeça mergulhada num tanque cheio de água e sua nuca era forçada para baixo até o limite.

Na ditadura militar, quem pedisse direitos iguais era despido e jogado numa cela baixa que impedia ficar de pé por dias, sem água e sem comida, recebendo rajadas super frias alternadas a ondas de calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes.

Então, quando você ouvir o som dos foguetes de Jair Bolsonaro, quando encontrar alguém com um cartaz pedindo intervenção militar, quando participar de um movimento onde haja pessoas defendendo isso, lembre-se: você está sendo cúmplice de um modelo que assassinou, enlouqueceu, mutilou e estuprou muitos brasileiros e brasileiras.

Eles e elas eram pessoas como você. Só queriam poder dizer o que pensam, manifestar sua inconformidade. Não aceitavam mandos e desmandos sem qualquer explicação. Consideravam legítimos os direitos das mulheres, do povo negro, dos indígenas, dos sem-terra e, especialmente, daqueles brasileiros e brasileiras que, por ganharem pouco ou quase nada, não tinham acesso ao estudo, à casa própria.

O único crime desses homens e mulheres era a sua inconformidade com um país onde uns poucos brancos e ricos viviam muito bem, enquanto a maioria era submetida à fome, à miséria e a salários aviltantes.

Entre esses brasileiros e brasileiras estava uma mulher chamada Dilma Vana Rousseff. Hoje, é ela quem governa o Brasil. E é por nossa governante ser Dilma, e não um ditador ou seus comparsas, que você, se quiser, pode protestar livremente, contra o que bem entender, inclusive contra o governo da própria Dilma.

Ela foi torturada para que você pudesse ter esse direito. Então, faça sua manifestação como bem entender, mas antes de ofender Dilma, pense nisso. 

Esse artigo foi escrito no Dia Internacional da Mulher em homenagem e gratidão à brasileira Dilma Rousseff.

*É deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul e Secretário Nacional Agrário do PT

Disponível em: http://www.vermelho.org.br/noticia/277371-1. Acesso em: 21maio2016.


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Giacobo, o deputado sortudo que poderá presidir a Câmara

11 de maio de 2016 - 18h33

Mesmo os mais desinteressados em política certamente já ouviram falar no deputado Fernando Giacobo no  interior no Paraná. O deputado sortudo que ganhou 12 vezes na loteria em apenas 14 dias. Com uma trajetória marcada por acusações de cárcere privado, falsidade ideológica e formação de quadrilha, agora ele poderá ter a sorte de presidir a Câmara dos Deputados, caso o parlamentar Waldir Maranhão, que ousou tentar barrar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, deixe o cargo.

Reprodução
Um homem de sorte, em 1997 Giacobo ganhou 12 vezes na loteria em apenas 14 dias. Na época o prêmio totalizou R$134 mil. Mais tarde, em 2004, durante uma entrevista à Folha de S. Paulo, ele garantiu que realmente foi “pura sorte”. Bobo é quem não aposta tanto quanto o deputado, afinal, ele “jura por Deus” que é “um cara de muita fé”.

E parece que a sorte bate de novo à porta de Giacobo. Agora ele está na lista de sucessão para presidir a Câmara de deputados. Depois do afastamento de Eduardo Cunha, Waldir Maranhão assumiu o cargo, mas sua ousadia ao tentar impedir o impeachment da presidenta Dilma Rousseff não agradou a Câmara Baixa e neste momento um político do tipo de Giacobo pode entrar em cena.

Em seu currículo constam acusações de cárcere privado, falsidade ideológica e formação de quadrilha. Mas o deputado também sempre foi muito preocupado em desenvolver boas ações para mostrar que além de sortudo, é um homem de bom coração. Giacobo apresentava, numa emissora local de Cascavel, cidade do extremo oeste paranaense, um programa que ia ao ar diariamente por volta do meio dia. O objetivo era mostrar as ações beneficentes do deputado que distribuía cadeiras de roda, dentaduras e sacos de cimento para deixar clara sua preocupação com o bem-estar social.

Depois de passar pelo PPS e pelo PL, agora Giacobo exerce seu mandato pelo PR. Segundo sua assessoria, “atualmente” o deputado “não responde nenhum crime”. Atualmente.

Do Portal Vermelho, Mariana Serafini

Disponível em: http://www.vermelho.org.br/noticia/280718-1. Acesso em: 11maio2016.