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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A Criação da Bíblia (Ou A Bíblia do Ex-Padre José)

PREFÁCIO
“Não foi dada a ninguém a capacidade de saber algo sobre o futuro, nem sobre o passado – a não ser através da história oral ou documental. Mas muitos, acreditando realmente ter tido visões ou algo semelhante, ou ainda falando por parábolas, como era costume de determinadas épocas, falaram coisas que fizeram multidões acreditarem nas maiores esquisitices. Por isso, com o poder que todos temos para refletir e chegar a conclusões, passo, a seguir, a reescrever o que foi, é e ainda será motivo de muitas divergências, crenças, sofrimentos e alienações.”
“Espero, pois, que tudo o que será por mim escrito seja para o bem de todos que venham a conhecer esta obra, isto é, para a liberdade plena, sem falsas crenças, que surgem por má interpretação de quem escreveu há milênios, quando o estilo literário, as crenças ou os interesses não permitiam que fossem diferentes os ditos e ensinamentos”.
1 – GÊNESIS
UM
Como é impossível sabermos quando e como iniciou o mundo, ou mesmo se ele não é eterno, se existe desde sempre, é conveniente que elaboremos uma parábola, que com certeza depois de bom tempo passará a ser considerada “lenda” por outras religiões, para explicar que segundo nossa crença tudo foi criado por Deus: o céu e a Terra, o Sol com sua luz, as águas, os animais, as plantas, e o ser humano: homem e mulher.
Mas como nós sempre tivemos que o homem é superior à mulher, incluamos nessa parábola a idéia de que esta foi criada a pedido daquele e que foi tirada de uma costela dele, para que se tenha uma “justificativa divina” à sua inferioridade. Assim, façamos a parábola sobre Adão e Eva. Mas, antes de “criarmos” esses dois, façamos um capítulo que, confrontado com o seguinte, “dubifique” a idéia da Criação, pelos motivos que oportunamente ficarão claros.
Primeiro, digamos que Deus levou seis dias trabalhando nessa obra e que descansou no sétimo, pois assim acreditamos que seja bom: trabalhar seis e descansar um, já que mais que isso causa muito cansaço nas pessoas, e dizendo que Deus fez isso, fica justificado que também façamos assim. Digamos isso para justificar a necessidade de se descansar, pois a verdade sobre a origem do mundo é, com certeza, impossível de ser descoberta.
Depois, o que é muito importante nessa parábola, passemos que Deus nos fez à sua imagem e semelhança, para sermos “buscadores” de uma perfeição como a que sempre dizemos que Ele tem. Isso para que diminua a mesquinhez, a soberba, a arrogância, enfim, todos os males que existem por causa da inumanidade dos seres que se dizem racionais e que faz existir as guerras, os assassinatos, a fome, a humilhação e muitas outras situações praticadas sem justificativas e que são indignas do ser humano.
Enfim, façamos essa parábola para dizer que tudo foi criado por Deus: uma coisa, outra coisa, um ser, outro ser. E digamos que Ele mesmo chamou o primeiro homem para que este desse nome aos entes, pois como não sabemos quem fez isso, nem quando foi feito, atribuindo ao primeiro homem, por vontade de Deus, estaremos parecendo ter explicação para tudo.
E falemos sobre a Criação dizendo que cada coisa foi criada, e descrevamos as coisas tal como são conhecidas hoje, não que realmente tenha sido sempre assim, com cada coisa já sendo criada exatamente como é agora, mas porque Ele pode ter criado uma pequena partícula, “um infinitesimal nada”, e dado a isso “uma dinâmica” para que com o tempo chegasse a desenvolver-se e realizar seus objetivos, e agora, depois de muito tempo, passamos a ter todas as coisas conhecidas, que foram criadas por Ele num processo evolutivo pensado, intencionado.
DOIS
Digamos que o ser humano foi criado do pó da terra, pois com certeza ela existiu antes, e dela as outras coisas foram surgindo, direta ou indiretamente, saindo dela mesma ou de outros entes saídos dela. Isto é: podem ter saído da terra, da água ou do ar, pois tudo isso faz parte de uma mesma realidade, pois são surgidos do processo desencadeado pelo mesmo “infinitesimal nada” que está evoluindo incessantemente até hoje e certamente continuará evoluindo por muito tempo ainda.
O lugar onde iniciou a vida humana, o Éden, localizemos numa região atrás das grandes montanhas existentes ao Norte, pois elas são intransponíveis e isso dará crédito à parábola, e será então uma utopia chegar a esse local tão prazível. Ficará como “o paraíso perdido” mas possível de existência real, dando crédito à nossa invenção.
Façamos uma lista dos nomes de rios, cidades e locais conhecidos, colocando seus nomes e atribuindo também a Deus essas denominações, pois são muito antigos e também não sabemos quem os nomeou. E colocando em Deus tal feito, esses rios, cidades e regiões serão, com certeza, considerados sagrados e eternos, o que ajuda na preservação e no uso dos mesmos.
A seguir, digamos que o homem pediu a Deus uma companheira, e que foi atendido. Adiante, como nós, homens, estamos inventando a história, criemos “uma serpente espiritual”, um gênio maligno, que levará a mulher a desobedecer a Deus e convencer o homem a também fazer isso, levando, tal desobediência, à existência dos sofrimentos e da morte. Assim estaremos – nós, os homens –, nos livrando quase que por completo da culpa desses males; estaremos culpando a mulher, que não interfere na elaboração dessa parábola, mas ainda dando uma chance a ela, dizendo que foi um gênio maligno o “culpado último” por tudo de ruim que existe no mundo.
Sim. Tudo isso é importante que digamos, pois do contrário será impossível ter justificativas para o surgimento do homem, da mulher, da má índole que acomete a maioria das pessoas e de todo o sofrimento, de toda a fadiga que somos obrigados a suportar na vida.
E não será necessário tanta preocupação com a coerência da história inventada, pois neste tempo em que vivemos e para quem estamos inventando, dificilmente alguém as encontrará.
Assim, não nos preocupemos se mesmo antes de dizer que foi a desobediência que criou a labuta já dissermos – no versículo 15 do capítulo 2, por exemplo – que o homem terá que lavrar a terra e depois dissermos que foi após ter comido a fruta proibida é que tal fato passou a ser necessário. Ou, como está no versículo 24 desse mesmo capítulo, que ainda “não criamos o fato que levaria ao surgimento de pais, mães e filhos”, digamos já que “deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne”, pois isso é importante ser dito como algo prescrito por Deus, já que assim estamos ensinando como sendo o correto, ou já que percebe-se a ocorrência desse fenômeno em todas as regiões conhecidas. Digamos isso, mesmo que aqui não seja o melhor lugar, nem o tempo certo para tal dito caso quiséssemos que a parábola cronologicamente correta.
TRÊS
Dizendo que ao comer “do fruto da árvore proibida” o ser humano, homem e mulher, “traiu a confiança de Deus”, passemos a narrar que Deus os castigou com um castigo muito grande dizendo à mulher: “multiplicarei grandemente a dor da tua concepção, sendo que em dor darás à luz filhos, e tu não terás desejos próprios, pois será dominada por teu marido, sujeitando-te completamente a ele, e ele te dominará”. E ao homem: “porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei dizendo para que não comesses, maldita será terra por tua causa, sendo que naturalmente ela produzirá espinhos e todo tipo de dificuldades para o cultivo, como ervas imprestáveis à alimentação que terão que ser arrancadas com grande dispêndio de forças, pragas e doenças que farão com que tenhas que sofrer muito, suar muito para produzir o alimento”. E digamos que, além disso, foi a partir dessa desobediência que Deus fez com que o ser humano sentisse a necessidade de se vestir, não para proteger-se do frio ou do sol excessivo, mas porque sentiu vergonha de andar nu. Desta forma teremos desvelado o motivo de a mulher sofrer tanto para gestar e dar à luz, de não poder ter desejos próprios e ter que se sujeitar ao homem; o motivo de tanto sofrimento para se conseguir o necessário à alimentação e à proteção das intempéries, como casas e vestimentas.
QUATRO
Quando falarmos sobre o nascimento do primeiro filho de Adão e Eva, digamos que ela pronunciou palavras de agradecimento a Deus por ter tido um filho e não uma filha. Isto porque nós, os homens, precisamos justificar o fato de todos preferirem ter filhos à filhas, e também para reafirmarmos nossa maior importância, mesmo quando são as mães a descobrirem o sexo de seu rebento.
Depois de dizermos que Adão e Eva tiveram mais um filho, Abel, digamos que este deu oferendas que foram aceitas por Deus, e digamos que o outro filho do casal também ofereceu mas que Deus não aceitou. Só não expliquemos o motivo, pois é difícil inventar um, e também não é importante explicar, pois a intenção é dizer que Caim ficou ofendido por não ter suas ofertas aceitas e zangado com seu irmão que então era o “bonzinho”, vindo, daí, a matá-lo.
Assim, teremos criado uma situação em que algo de muito ruim foi cometido, e a partir daí poderemos explicar para as pessoas de onde descendem os vagabundos, os maus, os “praticadores” de atos considerados ruins e sem justificativa plausível, porque foram castigados por Deus a ponto de não conseguirem tirar da terra seus sustentos. Diremos que são descendentes de Caim, que se multiplicaram e se espalharam por toda a terra, e hoje são os que habitam em tendas e possuem gado, os que tocam harpa e flauta, os fabricantes de instrumentos cortantes de cobre e ferro.
Mas, como foi que tais pessoas descenderam de Caim se até agora só trabalhamos a idéia da existência de um casal, Adão e Eva, que gerou apenas dois homens: este que foi o pai de todos os vagabundos, e Abel, que foi morto? E mesmo depois, quando trabalharmos a idéia de Set, o antepassado nosso, os que acreditamos sermos escolhidos para uma vida longa e feliz por sermos bons e “arrependedores” de uns ou outros pecados cometidos contra a vontade, os propósitos de Deus?
Bem, aqui poderíamos dar uma de duas explicações: ou que Adão e Eva tiveram também filhas – mas que estas são inferiores, ou simples peças necessárias à realização dos objetivos dos homens, e por isso é desnecessário mencioná-las – e Caim uniu-se a uma delas, pois eram as únicas mulheres existentes na terra, e ele precisava relacionar-se sexualmente com uma para gerar filhos; ou que a história de Adão e Eva seja “a história de um povo, o povo escolhido por Deus para fazer a Sua vontade”, sendo que existiam também outros povos, de onde tanto Caim quanto Set conheceram suas mulheres. E, inclusive, para esse tipo de argumento servirá o fato de colocarmos, na verdade, duas “narrativas” sobre a Criação, onde uma poderia ser a criação dos outros povos, e outra a criação “do povo escolhido”. Ou seja, a criação de nossos antepassados, que vêm de Adão e Eva.
Porém, caso parta para a primeira interpretação, poder-se-ia explicar que como não existiam outras mulheres, naquele tempo não era “pecado” irmão e irmã unirem-se e ter relações sexuais, para que aumentasse a população, e poderíamos dizer que depois não era pecado unir-se e ter relações sexuais entre primo e prima, e assim sucessivamente, até o tempo em que seja pecado ou apenas desaconselhável que isso aconteça entre parentes de qualquer grau, e até entre sogra e genro viúvo ou separado segundo o que a lei permita.
Já no segundo caso, apesar de ficar melhor por conseguirmos evitar a idéia de incesto desde o início por parte do povo escolhido, complicaria a nossa parábola, pois não conseguiríamos explicar o motivo de Deus ter criado um povo que não fosse “o escolhido”, e depois, criando “o escolhido” ainda ter acontecido “a perdição” de Caim. Assim, como o que estamos fazendo é mesmo uma parábola porque não sabemos realmente como tudo surgiu, e acreditamos fielmente que as pessoas às quais essas explicações se destinam não vão aprofundar-se tanto no raciocínio a ponto de questionar fatos como esses, é melhor mesmo que deixemos uma escrita ambígua, de forma que seja possível interpretar de uma maneira ou outra e, principalmente, ficar em dúvida mas acreditar que nós sabíamos mesmo como foi “o Princípio”. E para que exista essa ambigüidade, é melhor que pulemos essa polêmica e escrevamos apenas “o fato” de um e outro terem conhecido suas mulheres e sido “pais” de um e outro tipo de gente dos que povoam a terra em nossos dias.
CINCO
Agora é preciso fazer uma genealogia completa de nosso povo, desde Set, que é o terceiro filho de Adão e Eva, até nós. Isto para que não reste dúvidas sobre nossa história, e que saibam que somos descendentes do filho bom do casal feito por Deus para realizar Sua vontade na terra.
Mas, além de fazer a genealogia, sempre preocupados apenas com os nomes masculinos e com seus descendentes, agora, para melhorar as coisas, coloquemos também houveram filhas, porque é preciso dizer que gerou-se muitas mulheres, pois isso é óbvio tendo em vista a grande quantidade delas na face da terra.
Nessa genealogia, façamos, também, uma divisão sobre o tempo de vida dos homens, colocando que o primeiro grupo viveu muitos e muitos anos, chegando a quase mil anos, até que, com a rebelião que causou o dilúvio, Deus não mais permitiu que se vivesse mais que seiscentos anos, e depois, com a outra rebelião, a da ... não se vive mais que cento e poucos anos. Isso porque é corrente entre nós e nosso povo a idéia de que as bênçãos de Deus manifestam-se pela felicidade e pelos anos vividos aqui na terra, e não por uma possível vida espiritual posterior à morte, como poderia imaginar alguém de outro povo ou tempo, e como o ser humano descumpriu os acordos feitos com Deus, mesmo que hoje tenhamos entre nós pessoas boas, alguma conseqüência temos que suportar por causa dos erros cometidos voluntariamente pelos antepassados, e essa conseqüência é a vida mais curta, menos tempo para aproveitar as felicidades, os prazeres da existência.
Digamos isso. Não que acreditamos em uma vida tão longa de nossos antepassados, mas simplesmente para chamar a atenção dos ouvintes de uma forma tão contundente que os convença do quanto era boa a vida e quanto perdemos ao desrespeitar o Ser que criou todas as coisas para nosso proveito e só queria em contrapartida o respeito às suas vontades. E que esse convencimento faça com que doravante todos sigam os ensinamentos dos sacerdotes, não mais desrespeitando os preceitos por nós passados como sendo a vontade de Deus. Se bem que deve mesmo ser a vontade Dele, pois apesar de exagerarmos para convencê-los, realmente, após prestarmos atenção nos ensinamentos dos antepassados, e termos observado atentamente os acontecimentos do dia-a-dia, além de procurarmos interpretar sonhos, que afinal não entendemos mas acreditamos ser mensagens de entes espirituais que querem nos fazer entender o sentido da vida, só pode mesmo ser esse o caminho a ser seguido pelo povo que queira viver o máximo possível e da forma mais feliz possível.
SEIS
Como é passado pelos antigos, que receberam dos mais antigos, o acontecimento de uma grande inundação, que chamam dilúvio, aproveitemos tal história (ou estória) para dizermos mais alguma coisa sobre o desrespeito às vontades de Deus e as conseqüências disso. Mas procuremos falar de uma inundação tão grandiosa que somente com a intervenção direta de Deus é que tenha acabado sendo possível continuar existindo a vida sobre a terra.
Iniciemos mais uma vez, mesmo que indiretamente, culpando as mulheres pela ação do homem que acabou desagradando a Deus, sempre para reafirmar a inferioridade dela. Digamos que foi por as mulheres de povos não “protegidos por Deus” serem muito bonitas que nossos filhos foram atraídos por elas e que unir-se a elas era coisa reprovável aos olhos de Deus, e que por isso Ele, que deve ter sentimentos de felicidade e arrependimento, alegria e ódio, como é próprio de todo ser que pensa, como nós, arrependeu-se de ter criado tudo isso e ver que a obra mais perfeita, o homem, não tem tido a preocupação de respeitar suas vontades, e por isso resolveu destruir tudo: os homens, os animais, as plantas e até mesmo o planeta inteiro.
Porém, para justificarmos o fato de ainda estarmos aqui, e termos tudo o que há, digamos que um homem, Noé, era tão bom que Deus compadeceu dele e fez com que ele sentisse que uma chuva colossal iria destruir tudo, a não ser que fosse construída uma grande barca em que pudesse ser colocados animais, sementes e quantas pessoas quisessem ser salvas.
Digamos que ainda tentou convencer outras pessoas a fazerem o mesmo, mas que todos acharam ser loucura e nada fizeram. Digamos isso para ficar claro que ele era realmente bom, preocupado com seus semelhantes.
Depois, para mostrar que foi mesmo colossal a chuva, falemos que todo o mundo foi alagado e só restou, para reiniciar tudo o que existe, o que estava na barca. Assim, teremos que dizer que foi colocado um casal de cada tipo de animal, um pouco de semente de cada tipo de planta e alguns casais de pessoas, os filhos e noras do próprio Noé, enfim, um pouco de tudo o que vive em nossos dias.
É claro: qualquer um que racionalize um pouco verá que nenhuma barca caberia um pouco de tudo o que existe, mas nesse ponto não tem importância que seja incoerente, pois em nossos dias é comum falar em parábolas, inventar uma estória para ficar mais fácil explicar o sentido mais amplo de alguma outra coisa. Assim, todos saberão, pela incoerência história dessa narrativa, que não é algo real, mas simbólico. E não terá problema, pois os outros temas que foram e serão abordados com mais coerência serão suficientes para convencê-los, e terão essa parte como um complemento irreal mas importante para reafirmar a grandiosidade de alguns que, mesmo estando só em suas respectivas épocas, conseguem fazer com que muitos sejam beneficiados nela mesma ou no futuro.
SETE E OITO
Sobre a chuva, digamos que foi sobre toda a face da terra e que durou quarenta dias e quarenta noites, destruindo tudo que não estava na barca. E digamos que entre chuva e fim das águas foram algo em torno de sete e dez meses, isso para ficar claro que nada sobreviveu à inundação.
Acabemos o relato sobre esse episódio dizendo que Noé agradeceu a Deus queimando alguns animais perfeitos para que o cheiro da fumaça dos mesmos fosse sentido por Ele, e que tendo Ele sentido tal cheiro, ficou feliz e prometeu nunca mais acabar com todo o ser vivente da terra como tinha feito naquele dilúvio. E isso tem que ser dito para que possamos falar com o povo sobre os outros tipos de destruição que vemos e consideramos que sejam “castigos” de Deus, ou sinais para que nos arrependamos dos desvios e voltemos ao caminho certo, o caminho querido por Ele.
E, no versículo 22, terminemos “colocando na boca de Deus” que “enquanto a terra durar, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite”. Mas não expliquemos nada sobre esse “enquanto a terra durar”, pois na verdade não sabemos o que isso quer dizer. Será que um dia ela explodirá com um desses grandes vulcões, será derretida por um aumento descomunal dos mares, ou desintegrada por uma pedra grande dessas que quando caem do espaço, mesmo pequeninas, fazem um estrago medonho? E mesmo: será que esse “enquanto” é exclusivo da terra, sendo que nesse momento nós estejamos seguros em algum outro lugar, em alguma estrela, ou será que a terra é o único local possível para a vida tal como conhecemos, material assim, e que com seu fim a odisséia humana também terá chegado ao seu fim?
Essas divagações vêm, não que fossem necessárias aqui, nem porque as colocaremos na Escritura, mas porque, como sabemos, já desde há muito que existem as histórias de carruagens que vêm do espaço, que dizemos serem de emissários divinos, mas que na verdade não temos certeza disso, criando, por isso, sonhos de podermos, um dia, ir a outros planetas, conhecermos outros filhos de Deus espalhados pelo universo. E não convêm colocarmos essas crenças em nosso escrito, pois muitos não acreditam nisso, acham que somos os únicos viventes, e por isso uns ficariam descrentes em nossa obra, outros com raiva, e outros, talvez, até mesmo adulterassem-na para conformá-la às suas crenças limitadas, só baseadas no que eles mesmos presenciaram ou no que é lógico apenas para eles.
NOVE
Repitamos a idéia passada sobre Adão e Eva, onde ficou claro que a “frutificação, a multiplicação e povoamento da Terra” foi uma “ordem” recebida de Deus, e digamos, também, que “terão medo e pavor de vós todo animal da terra, toda ave do céu, tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar; nas vossas mãos são entregues”. Isso para que fique justificada a dominação e o uso de tudo o que existe pelo homem.
Mas coloquemos que Deus proibiu que se comesse o sangue dos animais e a carne de porco, para que fique justificada a proibição que impomos há muito quanto a isso. E está claro que Deus proíbe mesmo tal atitude, pois no decorrer da história muitos sacerdotes, que são os únicos que se dedicam a esse tipo de observação, perceberam que entre aqueles que faziam uso do sangue de qualquer animal, ou, principalmente da carne de porco, muitos acabavam ficando doentes e até morrendo. Assim, mesmo Deus não tendo falado diretamente que eram proibidas tais coisas, só pode ser sinais de Sua vontade o que acontecia e acontece com aqueles que faziam e fazem uso dessas partes da Criação, desrespeitando leis que foram criadas pelos representantes de Deus.
Falando no dilúvio, aqui é um momento importante para trabalharmos a idéia de que Deus não mais destruirá a vida da Terra com água, com outro dilúvio. Coloquemos isso para dizermos que Deus fez um pacto com a humanidade de que não mais aconteceria isso, e usemos a existência do arco-íris, que não sabemos porquê existe, mas que admiramos sua beleza, para dizermos que foi criado ao final do dilúvio como forma de lembrança do pacto todo vez que se iniciar uma chuva. Assim estará explicado o arco-íris e preparado o terreno para, mais há frente, defendermos outro tipo de punição para os que não seguem as vontades de Deus, não seguem nossos ensinamentos.
Para terminarmos a história de Noé, e explicarmos porque os que se consideram originários de Canaã são escravizados, criemos o seguinte fato: digamos que cada qual dos três filhos se Noé seria pai de um povo, sendo que um dia, após beber muito vinho e embebedar-se, este foi visto por Cão, seu filho, gerador dos cananeus, e que este não apiedou-se do pai, mas foi contar aos irmãos de forma zombeteira, sedo que estes é que cuidaram do pai. Assim, digamos que quando Noé soube do ocorrido, amaldiçoou os descendentes de Cão, ou seja, toda a Canaã, dizendo que esta seria serva dos “filhos” dos que se apiedarem dele, ou seja, dos povos que surgissem a partir das descendências de Sem e Jafé, os filhos que agiram corretamente com relação ao pai.
DEZ
Após termos falado sobre o dilúvio e “maldição” proferida por Noé a Canaã, por causa de seu “pai” Cão, é conveniente que façamos uma relação dos povos que descendem dos filhos de Noé. Não é preciso sabermos realmente se todos os povos listados existem ou existiram, ou se grau mesmo geneticamente pertencentes aos ramos em que os agrupamos, é necessário colocar Canaã como descendente de Cão e os povos que dominam ou dominaram-na como descendentes de Sem e Jafé. Isso para ficar coerente com o que relatamos antes e para ficar, de vez, justificada a dominação de Canaã.
Assim, digamos que de Jafé surgiram descendentes, e que estes receberam as ilhas hoje povoadas; de Cão, digamos que surgiram Cuche, Mizraim, Pute e Canaã, e que de Cuche surgiram vários, dentre eles Ninrode, e deste Babel e vários outros lugares, além de Nínive e outras, já na Assíria. E seguindo, cheguemos a dizer que dessas descendências de Cão é que foram geradas também Sodoma e Gomorra; de Sem, digamos que surgiram Assur e outros, e desses, Uz, Hul, Geter, Más, Selá, Eber, Pelegue, Joctã, Almodá, Selefe, Hazarmavé, Jerá, Hadorão, Usal, Dicla, Obal, Abimael, Sebá, Ofir, Havilá e Jobabe, tudo numa seqüência de várias gerações, que habitaram desde Messa até Sefar, montanha do oriente.
Tudo bem que coloquemos nomes desconhecidos de todos, pois queremos criar uma seqüência que justifique as situações dos povos conhecidos atualmente, dizendo que este ou aquele tem esta ou aquela característica porque descendem de alguém que fez algo errado ou certo, que foi amaldiçoado ou abençoado. O importante é que incluamos os que têm problemas entre os descendentes de Cão, e os prósperos e dominadores entre os de Sem e Jafé, sim, porque acreditamos – e é importante passar isso – que os prósperos e dominadores o são pela vontade de Deus, porque merecem. E não nos preocupemos se futuramente os adoradores de Deus e outros interessados saibam se os nomes aqui colocados são pessoas ou cidades, ou povos inteiros, porque por agora nós mesmos poderemos explicar, até mesmo criando na hora uma saída para perguntas impertinentes; além de que, na verdade isso é irrelevante, pois se se acredita que é uma pessoa, conclui-se que dessa pessoa surgiram cidades e povos inteiros, e se se conclui que é uma cidade ou povo, conclui-se que surgiram de uma pessoa, que ao final é pai de todos.
ONZE
Tendo que existem muitos idiomas, e que é preciso Ter uma explicação de porquê existem tantos, causando as dificuldades que conhecemos na comunicação entre os povos, e após refletir bastante sobre o assunto com toda a boa-vontade possível, aproveitemos a história que já vem sendo passada de pai para filho desde tempos indeterminados que fala sobre a construção de uma grande torre construída pelo ser humano com o fim de alcançar o céu.
Digamos que tal construção era egoísmo do ser humano, pois o céu é de Deus e querer chegar lá sem ser através da “pós-vida” é inaceitável a Ele, e que por isso houve toda aquela história de confusão provocada pela imposição divina de diversidade idiomática para que tal obra não prosseguisse.
Após esse problema, que nem era necessário colocar nesse momento, mas também não precisaria ser deixado para depois, e que para não virmos a esquecê-lo já é melhor que tenhamos colocado, voltemos à genealogia dos filhos de Noé, destacando a de Sem, pois segundo seu modo de vida destacado anteriormente, é dele que descenderá os escolhidos, e os personagens importantes na luta desse povo, ou de nosso povo, para conseguirmos a unidade necessária à prosperidade, a liberdade e à felicidade.
Assim, coloquemos que Sem gerou Arfaxade, outros filhos e filhas; Arfaxade gerou Selá, e mais filhos e filhas, até chegarmos à geração de Abrão, cuja história deverá ser trabalhada com bastante detalhe. Mas cuidemos que entre Sem e este seja colocada uma longa seqüência, para dizermos que já fazia muitas gerações que havia ocorrido o dilúvio.
Com tais detalhes, citando nomes e tempo de vida, com certeza as informações serão consideradas verdadeiras, e nós teremos uma história coerente, dando ao nosso povo muito mais força, muito mais garra para continuarmos vivendo nesse mundo, e a nós uma autoridade inquestionável, idolatrável até.
DOZE
Sem nos esquecermos que muito, ou quase tudo o que escrevemos não é invenção nossa, mas registro do que a tradição oral já nos deu, trabalhemos sobre o personagem Abrão.
Digamos que ele, por ouvir uma ordem de Deus nesse sentido, saiu de sua terra, de perto de seus parentes, e foi para outra região, onde o Criador disse que era o local adequado, onde seria abençoado e teria filhos e filhas, chegando, através de seus descendentes, a gerar uma grande nação. E digamos que Deus falou a ele sobre o fato de que todo aquele que estivesse ao seu lado seria também abençoado, e todo que fosse seu inimigo seria amaldiçoado. Assim estaremos reforçando no povo a crença de que estando do lado dos protegidos de Deus a vida é uma bênção, mas estando contra, é uma maldição. E desta forma estaremos nos garantindo, pois sempre fomos considerados os “representantes diretos de Deus na Terra”, e estaremos “obrigando” a que todos façam conforme nós mandamos para não serem castigados, mas abençoados.
Coloquemos, também, uma história sobre fome na região de Canaã, que é para onde Abrão havia rumado, para justificar sua ida para o Egito, que só sabemos ter ocorrido através da história oral. Mas justifiquemos a saída de lá por causa do ocorrido entre o faraó e sua mulher, Sarai: digamos que o faraó, sem saber que ela era mulher de Abrão, tomou-a por esposa, e que por isso foi castigado por Deus com várias pragas, vindo a saber, depois que havia cometido adultério, e então mandou Abrão, a mulher e todas suas posses embora. Digamos isso para explicarmos a história e aproveitar para dizer que o adultério é castigado por Deus. E isso sabemos porque observando, tanto nós como nossos antepassados que nos passaram tal certeza oralmente, sempre percebemos que o adultério traz desgraças: são angústias, brigas e mortes. Por isso, definitivamente não é vontade de Deus que ocorra esse tipo e coisa.

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