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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Elas estão no comando e ainda salvam vidas

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Engenheiro que se recusou a voar com uma piloto levantou polêmica do preconceito contra as mulheres
Hoje, o Brasil é governado por uma mulher e a maior empresa do país, a Petrobras.
O caso do passageiro que se recusou a viajar em um avião comandado por uma mulher ganhou repercussão não apenas na mídia e nas redes sociais, mas também entre as mulheres que ocupam cargos de comando e dedicam suas vidas a salvar a dos outros. Para essas guerreiras – que, muitas vezes, tiveram que abdicar de ter uma família e passaram por muitas barreiras para conseguir chegar a uma posição de destaque na carreira – a atitude preconceituosa chega a ser uma afronta.

Hoje, o Brasil é governado por uma mulher e a maior empresa do país, a Petrobras, também tem uma presidente. Duas mineiras: Dilma Rousseff e Maria das Graças Silva Foster. Além delas, a reportagem encontrou outras mulheres em Minas que mostram que têm competência para ocupar qualquer cargo. Além de avião e presidência, elas comandam o pronto-socorro de um grande hospital, a polícia militar, a equipe de ambulância e helicóptero de resgate.
Caso emblemático
No último dia 18 de maio, o engenheiro Jefferson Jaime Cassoli foi expulso de um voo da Trip Linhas Aéreas que seguia do Aeroporto Internacional Presidente Tancredo Neves, em Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, para Goiânia (GO). “A Trip deveria ter me avisado, eu não voo com mulher no comando”, chegou a dizer o engenheiro, que foi convidado a se retirar da aeronave a pedido da piloto Bethânia Porto Pinto, de 36 anos.
“Fiquei preocupada com a segurança do voo e dos passageiros. Se ocorresse uma turbulência, ele poderia provocar pânico na aeronave”, explicou Bethânia, que tem 18 anos de carreira e mais de 9.000 horas de voo. “Nunca tinha passado por isso antes; ouvimos muitas brincadeiras, mas nada em que se faltasse com o respeito”, completou a comandante. A reportagem ligou para a casa do engenheiro, mas não conseguiu encontrá-lo.

“Imagine se, em vez de uma aeronave, esse homem precisasse ser resgatado por um helicóptero pilotado por uma mulher? Nesse caso, ele não poderia recusar, já que não teria muita escolha”, destacou a capitã Karla Lessa, de 29 anos, piloto do Batalhão de Operações Aéreas do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Hoje, ela é a única piloto na corporação mineira. Karla já trabalhou em resgates de acidentes graves nas estradas ou em busca de desaparecidos em matas.
Por ser uma profissão que exige esforço físico, as mulheres que se formam bombeiros mostram que sensibilidade não quer dizer fragilidade. Na corporação há 11 anos, Karla afirma que questões físicas nunca a impediram de salvar vidas. “A gente pode não aguentar uma carga de 100 kg, mas suportamos 80 kg e temos competência para saber a técnica mais adequada”, explica.
E foi por competência que a médica Daniela Pagliari se tornou a chefe da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. Um cargo antes só ocupado por homens. Daniela é responsável por 50 leitos de UTI e coordena mais de 300 funcionários, entre enfermeiros, médicos e auxiliares. “Ainda hoje vivemos preconceitos sutis como um familiar que me diz: chama o médico pra mim. Acredito que, se o paciente tivesse capacidade de decidir na hora, ele não ia querer ser atendido por uma mulher”, lamentou.
Atualmente, no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), quase metade dos funcionários é de mulheres (290 em um total de 600), mas apenas 30% desse total são médicas, e 5%, chefes de equipe.
É o caso de Cenira Vânia de Paula Rêgo, de 57 anos, que há oito anos se reveza entre o atendimento na ambulância e no telefone do Samu. Ela conta que sua vocação é trabalhar com pacientes graves. Uma profissão que envolve adrenalina e, quase sempre, tem espectadores apreensivos. “O mundo masculino ainda cobra muito da gente, por isso fazemos questão de dar o nosso melhor”, destacou a pediatra, intensivista e emergencista do Samu e do HPS.
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Coronel e comandante na PM
FOTO: LEO FONTES
Coronel Cláudia comanda 2.000 policiais, que chama de “meus meninos”
Na Polícia Militar de Minas Gerais, as mulheres não estão mais apenas nos serviços administrativos, elas já ocupam todos os departamentos, inclusive a base aérea, como pilotos. Apenas no Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), considerado a tropa de elite da corporação mineira, não há militares femininas atualmente, mas pelo menos duas policiais já passaram por lá.
Pela primeira vez, a polícia mineira designou uma mulher para comandar uma região. A coronel Cláudia Araújo Romoaldo, de 44 anos, comanda 22 municípios e 2.000 policiais militares na 3ª região de Vespasiano, na região metropolitana da capital. Ela assumiu o cargo em outubro do ano passado, após 26 anos trabalhando na corporação.
Para chegar a coronel, é preciso ultrapassar seis posições, além de muitas barreiras culturais. “Quando nós (mulheres) chegamos na polícia, há 30 anos, foi preciso batalhar muito para provar que dávamos conta”, disse Cláudia, que chama os marmanjos de sua equipe de “meus meninos”.
Por: JOANA SUAREZ

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