Ultimamente estou fazendo cursos da Senasp toda vez que abre novos ciclos. Acho que já tenho uns quinze.
São cursos excelentes, a maioria voltados especificamente à formação policial, mas tem, também, por exemplo, cursos de língua portuguesa, castelhano e inglês.
Na verdade agora é obrigatório (para podermos portar armas) que façamos pelo menos oitenta horas de cursos teóricos e práticos por ano, incluindo prática de imobilização, uso de armas letais e não-letais (ou menos-letais, como alguns preferem chamar).
Quando faço esses cursos, excelentes como um que fizemos há alguns anos durante uma semana, dia inteiro, na Uniamérica, fico pensando: Os guardas estão constantemente estudando sobre segurança pública, mas os administradores não e, por isso, como dependemos deles para desenvolver nossas atividades, ficamos sabendo como deve ser mas sem poder agir. Seria necessário que o prefeito e o secretário da administração participassem dos cursos que estamos tendo para que entendessem o que é policiamento comunitário e compreendessem a importância de investir nele.
Outra coisa que fiquei pensando ultimamente, depois de um curso de abordagem, é que nós passamos saber fazer uma abordagem, mas as pessoas em geral não aprendem a ser abordadas. E isso é sério, porque quase todo mundo não entende a gravidade que pode estar envolvida nas abordagens policiais: não sabem se o policial está abordando porque algum facínora que acabara de cometer um crime hediondo tinha características parecidas com o abordado, etc. Portando, já passei a defender que nossa instituição, a Guarda Municipal de Foz do Iguaçu (e quantas outras instituições policiais que queiram adotar) busque realizar “Curso de Abordagem I” para crianças e adolescentes I (12-14 anos) e “Curso de Abordagem II” para adultos e adolescentes II (15-17 anos) para que não coloquem suas vidas em perigo quando de uma abordagem, ensinando-lhes que “na hora da abordagem não é o momento para questionar a ação do policial ou tentar evadir-se dela, sendo que, caso acredite ter havido arbitrariedade, abuso de poder, etc., que busque os meios legais depois da ocorrência”.
Eu, por exemplo, certa vez fiz a abordagem (juntamente com dois colegas) de quatro ocupantes de um carro. Era noite e os vidros de trás tinham películas que dificultavam nosso visão do interior do veículo: os ocupantes não obedeceram a ordem de colocar as mãos na cabeça e ficaram questionando, dizendo que eram cidadãos trabalhadores, etc. Mas eu e meus colegas estávamos muito tensos, imaginando que aquela abordagem inevitavelmente acabaria em troca de tiro, porque aquele caro (e a quantidade de pessoas) batiam totalmente com as características que havíamos recebido por rádio de uma tentativa de assalto em que feriram um policial militar e trocaram tiros com uma equipe de guarda municipais. Portanto, é absurda a ideia que existe por aí de que “bandido tem cara de bandido”, ou de que “o polícia tem que saber que eu sou gente boa”, como se estivesse estampado na cara que a pessoa é boa, meio boa, má ou muito má!
Outro exemplo hilário: Uma vez uma equipe de colegas meus (quando eu ainda era policial militar) chegou num “bailão” e solicitou que todos os homens “fossem pra parede”, mas viram um ancião (bem velhinho mesmo) numa das mesas e um dos policiais disse:
- Você não, vovô. Você pode ficar sentado!
Logo depois outro policial viu o vovô indo com uma faca em direção às costas do policial que falara para ele ficar sentado. Alerta dado, contenção realizada, perguntaram o motivo da tentativa de homicídio e, para surpresa de todos, o velhinho disse:
- Vocês acharam que eu não valho nada? Eu queria provar que precisavam ter cuidado comigo também!
Na visão do velhinho ele havia sido menosprezado. Na visão do policial, o velhinho estava sendo respeitado ao ser liberado do processo de revista.
Portanto, toda abordagem policial precisa ser, na verdade, o contrário do que diz a Justiça e a cultura geral, que “todo mundo é inocente até que prove o contrário”. O policial, na hora da abordagem, precisa considerar que “todo mundo é uma potencial ameaça, até que, depois da revista e da identificação, possa perceber que não”. Aí se tranquiliza, agradece a colaboração, explica o motivo da abordagem e “segue trabalhando”.
Porém, apesar dessa visão diversa da apregoada no dia-a-dia, o policial precisa ser, sempre, o máximo possível educado. Mas quando o abordado entender que não está sendo, que mesmo assim siga as orientações e, depois, busque os recursos, como já está dito acima.
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