José da Silva*
Por que Eu esperaria meu filho – que vejo tonto, ignorante, sofrendo, precisando de ajuda – ter que pedir (e ainda mais, ter que pedir “do jeito certo”) para só então lhe dar algo que lhe será útil, benéfico e enaltecedor?
Não é problema psico-afetivo isso? Não é carência efetiva que leva a ações dessa natureza?
E quando Eu desse algo, por que ficaria ofendido e enraivecido caso meu querido filhinho nem me agradecesse? Esse tipo de sentimento não é, também, denotador de desvio de personalidade? Um ser inteligente e sadio psicologicamente não se satisfaz em ver que pôde ajudar e que essa ajuda deixou o outro melhor e mais feliz?
Quanto às orações: Eu, sendo Deus, poderia atender a todos que rezam (oram) pedindo coisas boas? Não podendo, qual é o critério para atender ou não? É Minha própria onisciência? Então, de que adianta pedirem-Me algo, se só farei segundo meus próprios princípios de verdade, coerência e importância?
Então: Eu ajo por padrões inerentes a problemas de personalidade, ou ajo pelos princípios que devem reger alguém sadio psicologicamente?
Se ajo daquela forma, que Deus sou Eu, que sou suscetível aos sentimentos baixos da humanidade? Se ajo desta maneira, de quê adianta pedirem ou agradecerem, se Eu já percebo e faço o que é melhor antes de alguém precisar pensar ou sentir tal necessidade, e quando faço, faço sem querer nada em troca, nem agradecimentos, porque não Sou “sentimentalão” nem interesseiro e, portanto, me satisfaço em ver o bem que fiz “de graça”, apenas porque fazer o bem é, em si, satisfatório, porque correto, porque em mim não existe incorreção.
Mas, se é desta maneira que ajo, e não daquela, por que não está “tudo da melhor forma possível” no mundo? Será que ajo daquela maneira, ou tento agir desta maneira e não consigo? Se tento algo bom e não consigo, novamente, que Deus sou Eu?
Ou será que não sou Eu quem está em crise existencial? Não seria quem fala de Mim que tenta transpor para Minha personalidade suas próprias fraquezas?
O ideal seria ninguém tentar entender-Me por isso ser algo totalmente impossível, ou existe certa possibilidade para eles (todo e qualquer ser dotado de inteligência) dizer algo coerente sobre Mim?
Só deixo uma reflexão, uma reflexão que foi feita por um pequeno ser humano, um homem comum, que considerava sem importância toda sua existência, mas que ousou (mesmo sentindo um certo medo de ser castigado por Mim, por pesadelos próprios ou pelos seus semelhantes) dizer o seguinte:
“Se eu fosse Deus, não deixaria existir nada de mal; não deixaria ninguém sofrer nem muito menos se perder para eternamente chorar e ranger os dentes no inferno. Não esperaria, portanto, que um pobre sofredor precisasse saber pedir, nem esperaria ele ter que pedir: dar-lhe-ia tudo de bom e de melhor, inclusive a capacidade de, com tudo isso, continuar bom, simples, humilde e, portanto, feliz e – se é que é – salvo.
“Outra coisa: sendo eu Deus, portanto onisciente, nunca nem precisaria fazer como dizem alguns que Deus deveria mandar um raio para fulminar os maus, os que trazem desgraças aos bons que existem pelo mundo, porque ainda antes da concepção eu já interviria para que as junções óvulo-espermatozóicas somente ocorressem quando disso fosse resultar pessoas boas e felizes”.
Portanto, com tantas contradições entre o que dizem que Sou, ou sou como dizem e não sou bom, ou sou realmente bom e não sou o que dizem que sou. Ou, então, pode ser que Eu seja diferente: pode ser que Eu nem aja no mundo, que tenha preferido deixar que tudo siga aleatoriamente, num verdadeiro caos, num verdadeiro pandemônio, cada um jogado à própria sorte. Ou, por fim, sei lá, e se Nietzsche acertou algo? E se Descartes errou ao ultrapassar a idéia do gênio enganador e, na verdade, além de enganar quanto à existência de tudo, inclusive dos seres materiais, esse gênio mesmo for uma enganação, mas uma enganação que ri de tudo o que todos fazem e pensam, tendo que, segundo a visão desse gênio, tudo não passa de ilusão, ou ignorância, ou perda de tempo, ou um drama, que às vezes, só às vezes, parece comédia, que sempre termina em tragédia e, depois, em nada, em nada absoluto?
* José da Silva é um ex-padre que resolveu afastar-se para uma vida campesina de subsistência e espera. Espera por algo que, segundo diz, nem sabe se virá.
E-mail para contato: expadrejose@hotmail.com
Por que Eu esperaria meu filho – que vejo tonto, ignorante, sofrendo, precisando de ajuda – ter que pedir (e ainda mais, ter que pedir “do jeito certo”) para só então lhe dar algo que lhe será útil, benéfico e enaltecedor?
Não é problema psico-afetivo isso? Não é carência efetiva que leva a ações dessa natureza?
E quando Eu desse algo, por que ficaria ofendido e enraivecido caso meu querido filhinho nem me agradecesse? Esse tipo de sentimento não é, também, denotador de desvio de personalidade? Um ser inteligente e sadio psicologicamente não se satisfaz em ver que pôde ajudar e que essa ajuda deixou o outro melhor e mais feliz?
Quanto às orações: Eu, sendo Deus, poderia atender a todos que rezam (oram) pedindo coisas boas? Não podendo, qual é o critério para atender ou não? É Minha própria onisciência? Então, de que adianta pedirem-Me algo, se só farei segundo meus próprios princípios de verdade, coerência e importância?
Então: Eu ajo por padrões inerentes a problemas de personalidade, ou ajo pelos princípios que devem reger alguém sadio psicologicamente?
Se ajo daquela forma, que Deus sou Eu, que sou suscetível aos sentimentos baixos da humanidade? Se ajo desta maneira, de quê adianta pedirem ou agradecerem, se Eu já percebo e faço o que é melhor antes de alguém precisar pensar ou sentir tal necessidade, e quando faço, faço sem querer nada em troca, nem agradecimentos, porque não Sou “sentimentalão” nem interesseiro e, portanto, me satisfaço em ver o bem que fiz “de graça”, apenas porque fazer o bem é, em si, satisfatório, porque correto, porque em mim não existe incorreção.
Mas, se é desta maneira que ajo, e não daquela, por que não está “tudo da melhor forma possível” no mundo? Será que ajo daquela maneira, ou tento agir desta maneira e não consigo? Se tento algo bom e não consigo, novamente, que Deus sou Eu?
Ou será que não sou Eu quem está em crise existencial? Não seria quem fala de Mim que tenta transpor para Minha personalidade suas próprias fraquezas?
O ideal seria ninguém tentar entender-Me por isso ser algo totalmente impossível, ou existe certa possibilidade para eles (todo e qualquer ser dotado de inteligência) dizer algo coerente sobre Mim?
Só deixo uma reflexão, uma reflexão que foi feita por um pequeno ser humano, um homem comum, que considerava sem importância toda sua existência, mas que ousou (mesmo sentindo um certo medo de ser castigado por Mim, por pesadelos próprios ou pelos seus semelhantes) dizer o seguinte:
“Se eu fosse Deus, não deixaria existir nada de mal; não deixaria ninguém sofrer nem muito menos se perder para eternamente chorar e ranger os dentes no inferno. Não esperaria, portanto, que um pobre sofredor precisasse saber pedir, nem esperaria ele ter que pedir: dar-lhe-ia tudo de bom e de melhor, inclusive a capacidade de, com tudo isso, continuar bom, simples, humilde e, portanto, feliz e – se é que é – salvo.
“Outra coisa: sendo eu Deus, portanto onisciente, nunca nem precisaria fazer como dizem alguns que Deus deveria mandar um raio para fulminar os maus, os que trazem desgraças aos bons que existem pelo mundo, porque ainda antes da concepção eu já interviria para que as junções óvulo-espermatozóicas somente ocorressem quando disso fosse resultar pessoas boas e felizes”.
Portanto, com tantas contradições entre o que dizem que Sou, ou sou como dizem e não sou bom, ou sou realmente bom e não sou o que dizem que sou. Ou, então, pode ser que Eu seja diferente: pode ser que Eu nem aja no mundo, que tenha preferido deixar que tudo siga aleatoriamente, num verdadeiro caos, num verdadeiro pandemônio, cada um jogado à própria sorte. Ou, por fim, sei lá, e se Nietzsche acertou algo? E se Descartes errou ao ultrapassar a idéia do gênio enganador e, na verdade, além de enganar quanto à existência de tudo, inclusive dos seres materiais, esse gênio mesmo for uma enganação, mas uma enganação que ri de tudo o que todos fazem e pensam, tendo que, segundo a visão desse gênio, tudo não passa de ilusão, ou ignorância, ou perda de tempo, ou um drama, que às vezes, só às vezes, parece comédia, que sempre termina em tragédia e, depois, em nada, em nada absoluto?
* José da Silva é um ex-padre que resolveu afastar-se para uma vida campesina de subsistência e espera. Espera por algo que, segundo diz, nem sabe se virá.
E-mail para contato: expadrejose@hotmail.com
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