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sábado, 10 de agosto de 2013

APARENTE SAÍDA DA CRISE*

Aqui estamos nós, mais uma vez envolvidos em uma situação que fatalmente nos levará a uma submissão ainda maior aos países imperialistas, pois a abertura do Brasil ao capital estrangeiro e a venda de todas as estatais ao domínio privado farão com que, por algum tempo, aparentemente, tenhamos resolvido a situação de crise econômica, porém deixará sequelas, se não para esse Governo, para os que virão depois.
Todo o plano está parecido com o do inesquecível Juscelino Kubitschek, que pareceu ser ótimo: fez aparecer cidades modernas, estradas, indústrias, etc., mas deixou dívidas e uma verdadeira sangria na economia nacional – que se esvai através do repasse dos lucros das multinacionais às suas matrizes. Agora acontece o mesmo: o atual presidente jura que pagará a "dívida" do Brasil e que fará todo o país crescer. Mas não percebe – ou não demonstra perceber – que se para pagar uma dívida (que, aliás, é injusta, inexistente) for preciso vender as estatais, com a desculpa de que não funcionam estando nas mãos do Estado, e para o crescimento da economia, da tecnologia, for necessário a abertura às indústrias estrangeiras, acabará por destruir toda possibilidade de o país ter reservas com o Governo, e toda a possibilidade de as indústrias nacionais desenvolverem meios de autossuficiência para o mercado interno.
Com essa política, que tapa o buraco que cada vez mais aumenta, estaremos em um aparente emergir da crise, mas cairemos de forma muito pior quando, por um motivo ou outro, for retirado o tapume – neste ou noutro Governo.
Penso que a solução desta situação está não nas medidas que este Governo diz que adotará, mas no real estudo sobre a dívida externa (o que certamente provará que ela já foi paga – já que ela existe somente pelo fato de os países credores terem aumentado os juros à revelia, causando a nós o aumento da dívida numa proporção a nos deixarem presos às algemas da economia). Com essa conclusão estaríamos libertos da necessidade moral de pagar essa dívida e com isso teríamos condições de investir em tecnologia nacional, o que geraria um desenvolvimento industrial e consequente independência nossa em relação aos produtos estrangeiros ou às multinacionais aqui existentes.
Essa é uma das saídas necessárias, mas os investimentos deveriam passar também pela agricultura e pela instrução em nível de ciências humanas. E é importante, também, que o Governo mantenha certas estatais que possam competir com a iniciativa privada, impossibilitando, assim, o verdadeiro governo paralelo exercido por aqueles que detêm os meios de produção e que estão preocupados somente com o lucro pessoal.
Portanto, precisamos de saídas que sejam eficazes agora, mas que permaneçam eficazes para o futuro, pois só assim é que estará seguro o verdadeiro progresso do país. Ao contrário disto, estaremos vivendo uma aparente saída da crise, mas que acabará por gerar uma situação ainda pior.
 
* Publicado no Jornal A Outra Voz, do DCE da Unioeste/Toledo, em abril de 1990.

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