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sábado, 10 de agosto de 2013

EPB: Matéria Inútil?*

No último ano de faculdade nós nos deparamos com uma disciplina chamada EPB (Estudo de Problemas Brasileiros) que – dizem – é imposição a todo curso universitário. Porém, pela forma com que ela nos é dada, faz com que alguns alunos mais críticos perguntem: será que EPB é tão inútil, tão desnecessário assim, ao ponto de ser uma matéria considerada simplesmente "algo que se é obrigado a dar"?
Particularmente percebi a grande importância dessa matéria (pois com ela – dada por alguém conhecedor dos problemas nacionais e de visão aberta às necessidades de mudanças – poderia trazer criticidade aos universitários). Por isso fiquei – e não só eu – decepcionado ao perceber que, já finalizando o curso, temos duas (só duas aulas, ainda cedidas por outro professor) para a matéria em questão, onde foi-nos exigido um trabalho de seis a doze páginas a respeito de alguns acontecimentos políticos posteriores ao ano de 1930.
Precisaríamos uma reestruturação profunda na grade curricular e não apenas mudanças de regimes semestrais para anuais – para, por exemplo, tirar uma quantidade considerável de horas-aula de Didática e de Prática de Ensino e introduzirmos a EPB. (Digo isto tendo percebido que os conteúdos daquelas duas matérias ou são na maioria dispensáveis – pois ficam com teorias inaplicáveis ou exigindo coisas infrutíferas – ou poderiam ser sintetizados).
Além do que disse antes, a matéria de EPB traia – e em potencialidade realmente traz – conhecimentos que nos ajudariam a entendermos os "porquês" de a nossa história ser como é, de a nossa situação ser esta, das possibilidades para o futuro. Traria "um pouco mais" de humanização às pessoas que ora estão "desligadas" dos problemas que são imprescindíveis de solução para que possa haver uma sociedade mais solidária, mais distributiva e que, assim, resolva os problemas que são, muitas vezes, daqueles mesmos que estão alienados, inócuos como quer o sistema opressor.
Podemos, neste aspecto, dizer que EPB e Psicologia Social deveriam seguir o mesmo rumo, tendo como fim um conhecimento sociologicamente crítico, possibilitando uma práxis humanizante por parte de cada pessoa que tenha passado pela Universidade.
Sabemos que essa disciplina foi implantada tendo em vista objetivos ideológicos do Governo, mas não se pode ficar preso a esse fato e acabar achando que por isso a matéria não é boa, não deve ser dada. Precisa-se, então, com a liberdade que cada pessoa tem dentro de seu campo de ação, buscar formas de aproveitarmos para o bem aquilo que nos obrigaram a fazer. Tendo em vista isto, acabam-se os problemas que eles e nós temos com o estudo de problemas brasileiros.
Por fim, esperamos que nada seja dado – obrigado ou não – simplesmente para "cumprir tabela" ou "para mostrar o quanto se faz num curso universitário". Esperamos que quando algo for ser feito seja a partir de comprovações claras e distintas sobre a real importância daquela ação; e quando algo estiver lá, que tiver de ser "engolido", que seja ao menos tendo em vista os valores encontrados por nós – que podem ser muitos, como é o caso de EPB –, e não de forma crua como pretendiam os “impositores” primeiros da coisa.
 
* Publicado no Jornal A Outra Voz, do DCE da Unioeste/Toledo, em junho de 1990.

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