No último ano de faculdade nós nos deparamos com uma
disciplina chamada EPB (Estudo de Problemas Brasileiros) que – dizem – é imposição
a todo curso universitário. Porém, pela forma com que ela nos é dada, faz com
que alguns alunos mais críticos perguntem: será que EPB é tão inútil, tão desnecessário
assim, ao ponto de ser uma matéria considerada simplesmente "algo que se é
obrigado a dar"?
Particularmente percebi a grande importância dessa matéria
(pois com ela – dada por alguém conhecedor dos problemas nacionais e de visão
aberta às necessidades de mudanças – poderia trazer criticidade aos universitários).
Por isso fiquei – e não só eu – decepcionado ao perceber que, já finalizando o
curso, temos duas (só duas aulas, ainda cedidas por outro professor) para a
matéria em questão, onde foi-nos exigido um trabalho de seis a doze páginas a
respeito de alguns acontecimentos políticos posteriores ao ano de 1930.
Precisaríamos uma reestruturação profunda na grade
curricular e não apenas mudanças de regimes semestrais para anuais – para, por
exemplo, tirar uma quantidade considerável de horas-aula de Didática e de Prática
de Ensino e introduzirmos a EPB. (Digo isto tendo percebido que os conteúdos
daquelas duas matérias ou são na maioria dispensáveis – pois ficam com teorias
inaplicáveis ou exigindo coisas infrutíferas – ou poderiam ser sintetizados).
Além do que disse antes, a matéria de EPB traia – e em
potencialidade realmente traz – conhecimentos que nos ajudariam a entendermos
os "porquês" de a nossa história ser como é, de a nossa situação ser
esta, das possibilidades para o futuro. Traria "um pouco mais" de
humanização às pessoas que ora estão "desligadas" dos problemas que
são imprescindíveis de solução para que possa haver uma sociedade mais
solidária, mais distributiva e que, assim, resolva os problemas que são, muitas
vezes, daqueles mesmos que estão alienados, inócuos como quer o sistema
opressor.
Podemos, neste aspecto, dizer que EPB e Psicologia Social
deveriam seguir o mesmo rumo, tendo como fim um conhecimento sociologicamente
crítico, possibilitando uma práxis humanizante por parte de cada pessoa que
tenha passado pela Universidade.
Sabemos que essa disciplina foi implantada tendo em vista
objetivos ideológicos do Governo, mas não se pode ficar preso a esse fato e
acabar achando que por isso a matéria não é boa, não deve ser dada. Precisa-se,
então, com a liberdade que cada pessoa tem dentro de seu campo de ação, buscar
formas de aproveitarmos para o bem aquilo que nos obrigaram a fazer. Tendo em
vista isto, acabam-se os problemas que eles e nós temos com o estudo de
problemas brasileiros.
Por fim, esperamos que nada seja dado – obrigado ou não –
simplesmente para "cumprir tabela" ou "para mostrar o quanto se
faz num curso universitário". Esperamos que quando algo for ser feito seja
a partir de comprovações claras e distintas sobre a real importância daquela
ação; e quando algo estiver lá, que tiver de ser "engolido", que seja
ao menos tendo em vista os valores encontrados por nós – que podem ser muitos,
como é o caso de EPB –, e não de forma crua como pretendiam os “impositores”
primeiros da coisa.
* Publicado no Jornal A Outra Voz, do DCE da Unioeste/Toledo, em junho de 1990.
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